2 de fevereiro de 2018

François Mauriac e o êxito em ser escritor

François Mauriac foi escritor, cronista, jornalista e poeta francês premiado com o Nobel de Literatura em 1952. Segundo Otto Maria Carpeaux "o maior representante do romance psicológico da tradição francesa". Segundo o próprio Mauriac: "um metafisico que trabalha com o concreto".

Escreveu dez romances entre 1920 e 1932, entre os mais celebres estão Le Baiser au Lepreux (1922), Genitrix (1923), Therese Desqueyroux (1927) e Le Noed de Viperes (1952) e também sobre as vidas de Racine (1928) e Jesus (1936).

Mauriac foi entrevistado para a revista The Paris Review onde compartilhou um pouco de sua técnica e sugestões para escrever romances e outras obras. Sua maior contribuição foi em relação a técnica, a qual legava a cada escritor a aventura de descobrir ou inventar a sua própria, e disse:

"Todo romancista deve inventar sua própria técnica (...). Cada romance digno de tal nome é como outro planeta, que seja grande ou pequeno, com suas próprias leis, assim como possui suam flora e sua fauna. Assim, a técnica de Faulkner é certamente melhor para pintar o mundo de Faulkner, sendo que o pesadelo de Kafka criou seus próprios mitos, que o tornam comunicável."

Assim, trata-se de o escritor criar ou descrever um universo próprio onde a ação de seu romance transcorre, seja ele próximo ou não da realidade como a conhecemos. O importante seria criar um estilo próprio, uma forma individual para contar a sua história, pois só o escritor pode saber o que e como tudo acontece, por isso recai sobre ele a responsabilidade de criar, executar e destruir conforme a história a ser contada.

Como criador deste universo que existe em cada romance, a tentação de interferir diretamente nos destinos dos personagens é constante. Porém, o desenrolar natural da história deve ser considerado para dar-lhe certa legitimidade com a realidade, pelo menos o que se considera real no universo criado pelo autor. Mauriac escrevia espontaneamente ou, segundo ele "com completa naiveté" - deixando-se livre de qualquer ideia pré-concebida do que se pode ou não fazer.

"Quando começo a escrever não me detenho a refletir se estou interferindo demais diretamente na historia, se sei demais a respeito de meus personagens e se deveria ou não julga-los.(...) Em geral, quando começo a escrever, nem todos os pontos importantes do enredo estão estabelecidos."

Mauriac aponta que experiencia de vida é fundamental para a escrita de qualidade. Observar os acontecimentos da própria vida com certa distancia faz com que o escritor tenha bagagem para utilizar em seus textos e dar a eles mais veracidade e credibilidade. De muitas formas, o autor é em parte o personagem, seja o protagonista ou o vilão, até mesmo um secundário que leva uma característica peculiar. Os ambientes, tendem a ser ambientes já conhecidos, consolidados na memoria. Essas "lembranças do passado" como se refere o autor, dão profundidade ao texto e levam o leitor a viver junto com o autor os sentimentos descritos. Por isso, Mauriac diz que o autor jovem, exceto poucas exceções, "quase não tem possibilidades de escrever com exito a cerca de qualquer outro período de sua vida a não ser sua infância e adolescência". Mas termina, do alto de sua experiência e gloria dizendo que todos os seus romances "tem lugar no período de minha adolescência e juventude, são `lembranças de coisas passadas".

Sobre a escrita em si, Mauriac nos urge a sermos nos mesmos e nos darmos com afinco a nossa obra a ponto de tornar as demais e anteriores obsoletas, desnecessárias.

"O primeiro dever de um escritor é ser ele próprio. O esforço de auto-expressão deveria afetar sua maneira de expressão. Jamais comecei um romance sem que esperasse que ele tornaria todos os outros desnecessários. Minha obra-prima saria sempre o romance que estou trabalhando agora".

Isso levaria ao grande êxito do escritor e a coisa mais rara na literatura: "quando o autor desaparece e sua obra permanece."

Mauriac em sua prosa refinada, nos deixou grandes lições e romances.
E para nosso deleite, uma das poucas obras traduzidas para o português do autor para que nunca esqueçamos de seu esforço tão bem recompensado.

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