6 de dezembro de 2011

Sopa de passas

Na beira do prato, arrisca-se a mosca
Já sentia no ar o calor. O gosto, imaginava.
Sabia somente que hoje era sopa.

A aba era larga e mesmo em seis patas
suspirava de dor
a mosca, arriscada, a barriga roncava
ansiosa que estava para sentir-lhe o sabor

Seus olhos brilhavam e o nariz palpitante
adivinhava os temperos boiando ali
curcuma, cebola, coentro e passas,
um toque de trufas, seria trés chic

E a mosca abusava da sorte e do dono
que  não despertara ainda do sono
na beira da sopa planejou o pulo
Zumbiu de emoção e deu o mergulho

Nadou sobre o caldo, feliz e contente
e afundou-se no meio da piscina escaldante
submersa entre arroz comeu quanto quis
deixando essa vida contente e feliz 

mas agora, tarde demais, foi-se a mosca ao céu das moscas
ser precisar bater asas, afundou-se sem pressa
fantasiando-se passa, no fundo do prato, no fundo da boca
na boca do estômago do dono da sopa

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