21 de abril de 2007

Atores

Nas noites longas
em que me escondo
dos meus sentimentos
ouço várias sombras
cantando nos escombros
do meu pensamento

E o seu cantar
ecoa por todo o infinito
atormentando minha alma
que em vão tenta escapar
do terror do meu grito
sufocado pela máscara da calma

ao meu lado, sem nada perceber
você dorme tranquila como criança
em seu semblante límpido posso ver
um "allegro" magnífico de algum teatro de França

Mas nos bordados da sua roupa
na intimidade do nosso sono
surgem laços de incompreensão
que nos separam sem querermos

E uma tristeza louca
me abate quando o último pano
se fecha, terminando a seção
e vejo que os atores somos nós mesmos

Sonho infinito

Sonhei contigo
um sonho insólito
um beijo
e tudo se acabou
palavras vãs
nas róseas manhãs
que se seguiram

Bela Maria

MARIA PASSAVA NA RUA
E PEGAVA TODOS OS TRENS
ESPERÁVAMOS MARIA NUA
OS PENSAMENTOS DOS HOMENS

MAS MARIA PASSAVA
E NEM LIGAVA
PARA OS HOMENS DA RUA
QUE A ESPERAVAM NUA

MASUM DIA ELA NÃO PASSOU
O MAIS APAIXONADO SE MATOU
NÃO PASSOU PORQUE CASOU
UM SENHOR ARREBATOU

ODIADO POR UNS E POR OUTROS ADMIRADO
POIS QUEM TERIA CONQUISTADO
QUEM REALMENTE FARIA
PALSAR O CORAÇÃO DA BELA MARIA?

Lucy's Breakfast

Lucy saiu de manhã
deixou pronto o café de sua irmã
Lucy foi viver sua vida
foi engolir sua juventude querida
Lucy foi atrás do destino
explorar o mundo a pente fino
Lucy quer morrer no mundo
atravessar o portão largo e profundo
Lucy quer experimentar coisas novas
quer viver poesias, romances e trovas
Lucy desistiu de ser igual
quer algo mais que ser normal
Lucy só quer ser feliz
quer mais que um quadro sujo de giz
Lucy foi embora, de vez foi embora
é, Lucy...talvez já estivesse na hora
A irmã de Lucy acordou
e como sempre tomou
seu café.

Poesia 11

Quam sabe ver no escuro das almas
quem vê no fundo das águas calmas
a verdade que todos querem
só os cegos podem perceber
o que os olhos não podem ver
e coraçõesrecebem o que merecem

Maré

Cadê o sorriso?
Cadê o tesão?
todos perdidos em ondas
de rádio e televisão
presságios do futuro
em letras do passado
runas inorgânicas
contam o novo dicionário
cartas na mesa e um bom jogo
divertimento, convívio e prazer
o que nos resta desta vida
senão nos gozar
aproveitar as coisas que temos para compartilhar
o riso, o sonho, o dia após dia
o som, o instrumento, a fonte de alegria
escuro ou claro
não importa o céu
vamos bribncar: eu represento,
você é o menestrel
pureza no convívio, nada
a esconder
rimas de cor
novenas a fazer
os pecados são muitos
mas não há porque guardá-los
já que o futuro não nos espera
um dia que morre
um dia que dorme
é menos um a ser aproveitado
o sono, inimigo da diversão
obstáculo eterno
de nossa reunião
os casais se formam e
não se entendem, pois
é o divertimento que
pretendem os atrapalha
atrapalha a rotina
o day-by-day
ao alcance das mãos
mas o convívio, o sonho
pemanecem vivos
uivo no silêncio dos beijos
estalos solitários na noite
que só vislumbra o todo
o som, o riso, a taverna
sou medieval, tenho certeza
não me agrada tanto mais a pureza
medieval do século xxi
será que além de mim há mais algum?
me prendo ao amor
mas tenho saudade de saga
provo a doce e quero a amarga
tenho todo e não tenho nenhum
sou medieval do século xxi
o dragão adormeceu
pela rede
o mistério, a bruma
desecarnou
sou o frio, o sozinho
o hermético filisteu
crio meus amigos, meus sonhos
minha dor
e não sinto falta de nenhum
sou medieval do século xxi
a madeira se fez plástico
as cordas se fizeram tecla
perdido na multidão de opções
faz-se só e sem assecla
perde-se, e o sozinho
é o Rei
nu ou vestido
feio ou pobre eu não sei
mas sinto falta do contato
da criatividade de outros tempos
cadê os filósofos e os poetas?
perdidos nas teias e redes do presente
me sinto ás fronteiras de Cafarnaum
sou medieval do século xxi
a poesia corre em mim
mas, de tantos atalhos,
ela não sai
nos esquecemos da pena e do papiro
vivemos somente o tédio e o suspiro
não temos mais sonho algum
sou medieval do século xxi
não entendo acordes
ou poesia concreta
nada mais me guia
cursor, rato ou seta
flutuo no meio da imensidão azul
sou medieval do século xi
não há mais cidades ou países qie me pertencem
se acendem traços de seios no futuro
recortes e contornos obscuros
que fase cruel, o envelhecer
o que virei a conhecer
pouco importa
já está obsoleto por definição
tudo nasce obsoleto
até que a rima nos separe
crise entre tantos
a decadência da personalidade
a procura de um ser total
só na imaginação
enquanto rola o simples,
o complexo se agita e clama por atenção
como um soberano
parem todos: o complexo é melhor!
o simples se recolhe ao pensamento
e se manifesta no riso, no som e na poesia
Cria! Cria! Cria! E não lê!
ser não, não há continuidade
as paredes não têm olhos e não enxergam no escuro
nada restará para sempre
mais puro
hoje é o sempre
e a eternidade é o minuto que passou
agarre-o e o sono que durma
deixe entrar dentro de ti
as características que você acha que tem
deixe o som entorpecer
e a companhia te enebriar
larga a dureza do mundo e se deixe levar
feche os olhos e surrealize
tantas ferramentas
tantos ângulos retos
deixe as curvas e os objetos cortantes sobressaírem
o som, a alma, a vida
viva e ouça: o coração
é o som que nos mantém vivos

O Mundo Sentou

Mas que saudado do frio
da dicotomia muda e burra
agora só há inteligência
há tempos o frio é feito de sangue
corria em nossas veias a
possibilidade
a ânsia de quintessência
havia caras e símbolos
e as pessoas andavam
uma eminência escura
trevestida de um grande clarão

E o clarão iluminava
a todos, indistintamente
seria nossa redenção
mas tudo fundiu-se e
uma enorme burrice
se passa por real
nem mais ânsia do
vômito redentor nós temos
sentados, vemos o mundo
brincar
o mundo parou

ao mesmo tempo que
tudo acontece
o mundo sentou
e se esconde
andando para frente
quanto mais as coisas
surgem, mais ficamos
na mesma
quanto maiores as possibili-
dades, mais chances
temos de nos
imobilizar

Ego camaleão

Quando me perguntarem: "quem você é?"
Responderei:
"Sou o Ego Camaleão"

Quando me perguntarem: "o que você é?"
Responderei:
"Sou um livro escrito por 70 vezes 7 mãos além das minhas"

Quando me perguntarem: "de onde você vem?"
Responderei:
"Da mais profícua e caótica multidão"

E quando me perguntarem: "para onde você vai?"
Reponderei:
"Espalhar pólen nas ervas-daninhas"

Quando me perguntarem: "és mortal?"
Responderei:
"Como tudo que toca o ar"

Quando me perguntarem: "do que és feito?"
Responderei:
"Do teu suspiro e da tua lágrima"

Quando me perguntarem: "o que pretende?"
Responderei:
"Levitar"

E quando me perguntarem: "o quer de mim?"
Responderei:
"Um sorriso e um abraço
uma estória, passo-a-passo"

E por fim me calarei.

Poesia 9

Foge, paixão perdida
este terreno é infértil
não olhe a alma dividida
que se fantasia de estéril

Fecha esses braços calorosos
sedução vazia
escureça essas promessas que atormentam
noite e dia

Respira esse ar pesado de culpa
uma tonelada do lado esquerdo
manca, perfeito enganado
nem consumado em volúpia

Que lábios, que olhos permanecem
os que querem e os que deveriam
torce o pano e ele chora negro
a dor de um destino não cumprido

Soluça então no meio da vaga esperança
uma oportunidade basta
como um sopro num castelo de cartas
para transformar uma mulher numa criança

Poesia 8

Assossega, alma peregrina
Assenta-te nesse ninho pacífico
ignora o que a mente maquina
aventura é sacrifício

Amarra essas asas de condor
contenta-te por tua sorte
por todo lado tens amor
dedicação a demarrar do pote

Portanto cala-te, coração errante
sufoca em ti a bestialidade
o mindo se fecha nesse instante
para seus desejos de crueldade

Próximo passo é capar-te a plumagem
lágrimas do peito oprimido
goze os louros conquistados
engole a frágil coragem

Poesia 7

Toquem as liras angélicas
o bardo gago chegou
sua genialidade seja aplaudida
a expectativa acabou
Abram-se as cortinas, foco no bardo
peito estufado, barbeado e perfumado
sobe ao palco, hesitante
limpa a garganta no púlpito
A glória num instante
e já passou. O bardo gago cumpre seu destino
começou bem, palavras simples
mas o cacófato escondido apareceu
E o desastre se seguiu, o bardo gago caiu
da majestade
De joelhos ao chão, lágrimas pretas
o basdo se levanta e ajeita o gibão
inclina a cartola, gorgoleja abafado
pelas risadas e se retira.

Poesia 6

Nascido em plena orgia
primeiro dia de Carnaval
enterro no peito a semente
sou só um doente, não sou todo mal

Do teu sonho sigo a trilha
uma milha atrás do teu ideal
sou uma estrela cadente
um recipiente, teu santo Graal

De mim farás teu caminho
escolhe sozinho o que queres de mim
tens nas mãos a corrente
pensamento potente para além do meu fim

Cumpri minha parte no trato
e agora me parto, erro a corrigir
agora sede clemente
germinai a semente, deixe florir

No fim, todos ganhamos
se nos encontramos nesse presente
basta a ti perdoar-me
e a mim encontrar-me até meu poente