10 de dezembro de 2005

Lanis e Maia

Um dia a mais na vida campestre
Repleto de luz e fruta silvestre
O brilho fugaz do orvalho no campo
Dissipa da relva verde seu manto

Maia acorda, se levanta e sai
Saltitante, o amor a atrai
Respira fundo o frescor da manhã
E esquece da mãe, do pai e da irmã

- Vai ver seu amado
Pensa a mãe num suspiro abafado
- Volte cedo - cenho fechado
diz o pai zeloso, preocupado

Pela campina, Maia corre e sorri
- Lanis me espera - pensa para si

Ele, forte e bravo guerreiro,
Volta do front saudável e inteiro
Enquanto galopa veloz pela estrada
Ela corre no campo apaixonada

Se avistam ao longe e o tempo pára
Como um raio, o alazão dispara
Se encontram num beijo, exorcizam a saudade
Se encaixam, completam duas metades

Se setam na relva e contam estórias
sobre colheitas, flores, noites e glórias
Seus olhos chamuscam de realização
Marcado a fogo, fogo da paixão

Formosa Maiae belo Lanis
Se amam à tarde, como nunca antes
E chega o crepúsculo, vermelho e azul
Ele deve partir, de volta para o Sul

A batalha o chama, o dever é herdado
Descendência de nobre, este é seu legado
Como escudeira ela acerta o arreio
Arruma a cela e afrouxa o freio

Escudo, espada, armadura ela apronta
Seu amado guerreiro, completo enfim, monta
E parte na dúvida - talvez voltará
Ela geme e chora - Eu aqui, ele lá!

A noite cai em despedida
A Lua se esconde, arrempendida
Não poderia mais um pouco ficar?
Horas de amantes custam tanto a chegar...

Ela o segue com os olhos pela estrada
Até a escuridado não eixar ver mais nada
Então se resigna e segue para casa
Já com saudades de seu anjo sem asa

Logo adormece em sonhos felizes
Um turbilhão de desejo e um milhão de matizes
Sonha colorido a volta do amado
que está longe, mas sempre ao seu lado

Já acorda com um sorriso no peito
Contando as horas para encontrar seu eleito
Inesperado...ninguém em casa
Machado no chão, panela na brasa
A ausência de todos lhe atormenta o coração
Que se aperta ao ver o jáz sobre o o chão
Cena de horror logo pela manhã
Três rostos conhecidos: pai, mãe e irmã

Desconsolada, ela grita de aflição
Esperneia, berra, procura explicação
E a figura sinistra surge do nada
O vermelho do sangue ainda tinge sua espada

- Teu amado é inimigo! Tu trarás ele para mim
Diz o cruel assassino, exímio espadachim
- Nunca! - grita a bela Maia, resoluta
E parte para avisar Lanis da luta

Atrás dela corria o malvado
Seguindo seus passos no descampado
Então na campina ela chega e o vê
Como sempre cansado e feliz de viver

Ele abre um sorriso, meio incerto pois Maia
Suja de sangue, de repente desmaia
Ele corre em socorro, mas se contém
Pois entende que ao seu encontro vem
O vulto escuro, a sombra esperada
Sem pensar duas vezes, Lanis brandi a espada

Se segue então uma batalha feroz
Entre Lanis, o belo guerreiro e seu algoz
Seu adversário tem a espada veloz
E desfere sobre Lanis a ferroada atroz

E o tempo parece parar
Os ferimentos parecem sarar
Os olhos dos amantes se encontram num suspiro final
Antes que o inimigo desferisse o golpe mortal

A ternura desta hora nunca será superada
Lanis, o guerreiro amante e Maia, sua amada
Os dois tiveram a mesma sorte
Morrer no leito do amor
Amar no leito de morte
E num só golpe lhes foi tirada a vida
Belo Lanis e formosa Maia
Amor e morte na despedida.

24 de julho de 2005

Poesia 3

Cria neutra, sem pai, sem mãe
Vaga nos caminhos do tempo
Entra nas vielas do vento
e traz mais um para o clã

Ouça suas palavras com desdém
Aproxime-se de mansinho
Toma-lhe a vida por bem
como a trocar um carinho

Crava-lhe, cria, ao crepúsculo
E faz o vermelho sorrir
Contrai em vão os seus músculos
com a ilusão de cair

Deixa-o então ao léu
Limpa-te no feltro
O encarregado agora é o céu
de criar mais um neutro

Poesia 2

Rompe a madrugada a incerteza
Nua em seu cavalo branco e
de coxas firmes
Ela passeia ilesa por entre os meandros do meu pensamento
Me inspira, musa libra, me faz
pensar e fazer minhas escolhas
Faz-me parar de vagar à procura da aurora
como outrora já o fizeste
Cala minhas mãos como já o fez
Venda meus olhos e dedos solitários
Venda meu prazer a preços módicos como estrume no interior
Prostitua minha mente com a sua luz

Poesia 1

É noite e o sangue corre
Dentro desta veia pulsante de emoção
Louco por jorrar, azul
na imensidão de pontos brancos
Neste universo invertido onde
o que brilha é o escuro
Tudo que é não-branco
Passo e apenas ligo os pontos importantes
Apenas destaco as linhas que devem sobressair
Cada folha pede para dizer alguma coisa
Apenas contorno
Nada mais é meu! É tudo papel!
A ansiedade de expandir-se me obriga a fazê-lo
"Risca-me de olhos fechados" - diz o bloco