29 de abril de 2008

A persistência do sorriso

Homúnculo assoberbado
Refém fiel de peito encaixotado
Companhia de quimeras
Pesadelo nas horas vagas

Espreme a angústia que te espeta
Dor lacinante do esteta
Perfeição ao seu lado inabalável
Imóvel e fria criação inalcançável

Briga em mim em veia e músculo
A esperança vã inesgotável
De acordar à aurora com teu ósculo
E dormir em teus braços no crepúsculo

E sonhar uma vida de cores
Tomando sua nuca de flores
Com mão firme a carne fria
E tua brutalidade macia
Pisoteia a esperança vazia
Flecha dura em dissabores

mas teus olhos que se esquivam
Tua armadura invisível
Hão um dia de se abrir
Pois não há medo que perdure
Nem solidão que se mature
Na persistência do sorriso

2 de abril de 2008

Terra Nova

Noite de insondáveis mistérios
Ès flor fechada em botão
És serena em tua ansiedade
Tempo que te foge às mãos

És fresta de luz, sorriso e soslaio
Olhos embotados, sorrateiros
Ès a cabeça baixa de Davi
Ao mesmo tempo que seu ar altaneiro

Quanto a mim, sou teu lacaio
Refém de teus suaves movimentos
És terra nova fecundada
Onde planto meus sentimentos

O ar que reverbera a tua volta
Chega em ondas e chacoalha minha vida
Abre para mim esse livro de ternura
Deixa-me tocar tua pele eternecida

Pois que, ao contar-te os méritos
És vitoriosa em sua calma
Coleciona estrelas como medalhas
E como troféu tens minha alma

Louros e um Viva! a ti
A teu silêncio me prendo
Insône em teus mistérios
Louco por teus segredos