19 de setembro de 2012

Quando o dia raiar

Quando o dia raiar, não terás mais tormento
Não terá mais sentido o lamento
o sussurro que me chega do fim
Não abrigarás sentimento
que julgas ora bom ora ruim
Quando o dia raiar, o sol trará grito e aplauso
abraço entremeado de riso
corpos entregues ao mesmo movimento
Lembra que a noite passou num instante
e que, exausta, de peito arfante
ainda via a  beleza daquele momento

Quando o dia raiar te esqueças da dúvida
a se concentre na dádiva
o bem que faz amarmos assim
E quem sabe outra hora, em outro ambiente
num dia que te encontres contente
por receber o tanto de amor que flui de mim
possa enfim libertar o sorriso, espontaneamente
esse lindo sorriso que sob corrente
você guarda fundo dentro de si
Nesse dia, o sol nascerá a pino
e de longe se escutará o sino
solitário anunciando o fim do fim

Quando o dia raiar, terás tudo e de peito leve
e aquilo que tem sido lindo e breve
fará parte do todo que és tu por completo
permanecerá na memória, indelével
resistindo com energia invejável
como a imagem de nós refletida no teto
Corro o risco então da loucura
de mãos dadas num dia e noutro à procura
das tuas palavras que me dão sustento
do teu beijo que me percorre lento
e dissipa a mais profunda amargura
Da nossa sintonia pura que é meu alimento
sobrevivo de ti com toda fartura
enquanto estiver no teu pensamento

11 de setembro de 2012

Saudades 1

No meio do dia tropeço na saudade. Doído, meu peito arde por não sentir-te sobre ele. Tu cabias inteira ali respirando entregue ao sono. Mesmo crescida me confiava em abandono.
Onde estão teus chutes que, mesmo pai, senti à noite. Onde está seu choro ao qual, mesmo insône, socorria-te.
Teu sorriso que é meu. Teu jeito que é meu. Cada dia mais longe e eu, comprimindo a tristeza, a falta, o cinzento do dia que é o dia sem te ver.
Não te esqueças de mim, peço eu ao anjo invisível, desconhecido enquanto escrevo. Tu és a coisa mais importante para mim. Sinto a ausência dos teus pequenos braços, da tua confiança, da tua rebeldia e obediência. Da tua voz gargalhando e chorando, negociando. Seu corpo que eu cuidei tão bem. Estalar seus dedos, secar suas lágrimas, pentear seus cabelos. Rir, correr, cair, brincar. Minha infância é sua. Sua infância é a minha segunda chance.
Se me arrependo de algo é a distância entre nós. Se choro por algo é a falta que você me faz. Se torço por algo é que passe logo e fiques do meu lado uma vez mais, tanto quanto quiser.
Cresça comigo, converse comigo. Sua inocência, suas confidências, seus segredos. Nossas mágicas. Cócegas, café-da-manhã com seus pés sobre minhas pernas. Te lembrarás disso?
Teu carinho, teu abraço. Choro, choro e choro sentindo a sua falta.