Mais uma vez o ano acaba e, com
ele, o prazo de validade das resoluções que fizemos no Reveillon passado.
Então, se em 2011, você se comprometeu a emagrecer, parar de fumar, casar ou
comprar uma bicicleta, é hora de renovar essas promessas vazias e começar 2012
com o pé direito na bicicleta, o anelar direito envolto em aliança e a banda
direita do seu glúteo rija.
E como eu também resolvi que
continuaria a série anual de Reminiscências do Ano Velho, promessa que,
diferente de muitas outras que fiz durante ao ano para mim e para tanta gente
que também esqueceu de me cobrar, vingará a partir de agora nas linhas que
seguem, assim como as anteriores que podem ser encontradas AQUI e AQUI.
Bom, 2011 começou com a magnífica
posse de Dilma na Presidência da República. Segundo informações oficiais, é a
primeira mulher a chefiar o Estado brasileiro. Digo oficiais pois tenho algumas
certezas quanto ao nível de influência das esposas dos nossos ex-presidentes em
suas vidas públicas, uma vez provada a veia romântica de muitos deles em
diversos livros e discursos, duvido que algum desvio aqui ou ali não foram só
uma prova de amor à suas musas. E que mulher não gosta de ganhar uma rosa
roubada. Se for um roseiral inteiro ou uma conta robusta na Suíça, tanto faz.
Fato é que, em meio a um pranto
duvidoso de júbilo ou desespero, os céus tanto choraram a posse de Dilma que a
Região Serrana do Rio quase desabou por inteiro. Se bem que pode ter sido
também de emoção pela chegada de Ronaldinho Gaúcho à Gavea. Essa sim uma posse
de peso. Não tanto pelo talento do atleta que se provou importante, sim, para o
orgulhoso quarto lugar no campeonato nacional, mas mais por estar fora de
forma. A vinda de R10 para o Rio esquentou tanto a sociedade carioca que os
barracões das escolas de samba não agüentaram e lamberam em chamas, causando um
prejuízo assustador às agremiações e tendo conseqüências inimagináveis na festa
mais linda do mundo, fazendo com que esse ano, muito parecido com alguns
movimentos nos campeonatos de futebol, numa grande virada de mesa, nenhuma
escola foi rebaixada. Pior para as do segundo grupo, pois nenhuma delas também
foi alçada ao grupo principal.
Mas se o Brasil fosse só samba,
futebol e sacanagem, a posse de Dilma, a posse de R10 e a tosse dos chamuscados
no incêndio nos barracões poderiam decretar o fim de 2011 com louvor. Porém,
muita coisa ainda viria a acontecer nos longos meses a seguir. E muita coisa
importante com conseqüências internacionais como os movimentos libertários do
Oriente Médio que degolaram alguns dos eternos ditadores da região, sendo o
mais famoso Muamar Khadafi.
Desde que me conheço por gente
Khadafi manda por aquelas bandas. Sempre citado como um potencial inimigo
número um do mundo ocidental, o sheik – ou sei lá como se escreve o cargo dele –
aparecia sempre muito saudável e disposto nos encontros internacionais,
inclusive naquele onde foi fotografado abraçando meigamente nosso ex-presidente
Lula. Que inveja de suas relações. E, não por acaso, o povo que aqui tanto
lutou para colocar nosso Lula no poder, lá fez o contrário e foi às ruas, não
batendo panelas como fizeram os argentinos quando do calote no FMI, mas
abatendo os militares do exército libanês. Por fim, a literal queda do ditador manchou
de sangue as ruas de Trípoli e as telas de TVs, computadores e celulares ao
redor do mundo.
Foi impressionante a rapidez com
que as imagens e notícias das tragédias correram em 2011. Sentados no conforto
de nossas casas pudemos quase molhar os pés na grande onda que quase afundou o
Japão no Índico, cerrar os olhos sob o borrifo das chuvas que quase afundaram
dona e cão em Petrópolis ou sentir os cheiros cadavéricos de nosso ex-vice José
Alencar e Elizabeth Taylor ambos coincidentemente nascidos e falecidos no mesmo
ano.
Mas nem tudo foi tragédia em
2011. Foi também polêmica. Sandy, por exemplo, propalou sua pretensa devassidão
ao associar-se a uma marca de cerveja. Criou polêmica, com certeza, mas não
chegou a realizar os sonhos, esses sim devassos, dos consumidores da dita
cerveja de vê-la nua seja lá onde for. No final das contas, concluiu-se que a
devassidão de Sandy é proporcional à qualidade da cerveja por ela defendida. Um
brinde à obviedade ululante. E, em se tratando de devassidão, a cervejaria
deveria ter contratado logo o Jair Bolsonaro, tão esperto em devassidão quanto
em física quântica, para defender a sua marca, já que defender os interesses
das minorias não é exatamente a sua vocação. Se bem que, hoje em dia, minoria
mesmo é quem acredita que exista essa tal família e os bons costumes que diz ele
defender. Vai saber.
Por outro lado, alheios a todas
as polêmicas e pouco se importando com Sandys, Bolsonaros ou muito menos marcas
de cerveja, que lá o que se toma mesmo é chá, casaram-se William e Kate numa
cerimônia estonteante. Bilhões de pessoas acompanharam tudo pela TV e milhares
compraram no camelódromo do Rio a réplica do anel de casamento da noiva. Nessa
história, não sei quem tirou a sorte grande. Se foi Kate, pois herdará duas
coroas, a avó de William e a da corte inglesa, ou se foi o próprio William,
pois Kate bota a Sandy no chinelo. Nesse quesito, os devassos ingleses tem
sonhos muito melhores.
Pode parecer que os anos estão se
padronizando. Começa com fortes chuvas, um terremoto, um famoso morre, um ditador
cai, mais terremotos e, finalmente, o show do Roberto Carlos. E, se de reprises
são feitos todos esses eventos, o do Rei tinha que ser o da Terra Santa,
enquanto Berlusconi repetia as suas picardias bem debaixo dos olhos da Igreja,
na Itália. Seguindo o bom exemplo de líderes anteriores como Nero e Calígula,
Berlusconi só não botou fogo em Roma nem nomeu seu cavalo senador. Fora isso,
tudo fez, se é que as orgias dos anteriores se comparam às suas. Seguindo essa
linha, recomendaria o Rafinha Bastos à presidência da Itália. Pelo menos ele,
que foi eleito a personalidade mais influente do Twitter, nunca renunciaria ao
seu cargo por ser acusado de participar de orgias, mesmo com grávidas, só para
dar um exemplo pior do que a conduta do italiano.
E enquanto todos cantam e
fornicam, o mundo chega a seus sete bilhões de habitantes, provando que o
Brasil, reconhecidamente talentoso nessas artes do samba e da sacanagem já
citados, está entre as potencias do futuro. Mas enquanto nascem tantos, alguns
poucos que morrem tem sua ausência sentida. Foi o caso de Steve Jobs, gênio da
tecnologia que, como citei nas reminiscências do ano de 2010, consegue fazer
dinheiro inventando coisas que ninguém sabe para o que usar. E não foi
diferente em sua morte, na medida em que sua biografia, apesar de ninguém saber
muito bem para o que serve, foi um estouro de vendas ao redor do mundo. Outras
mortes porém passaram despercebidas ou alguém se lembra que o R.E.M. se separou
em Setembro? Pois é, separou-se no mesmo período em que acontecia no Rio o Rock
in Rio. É mais ou menos como morrer no meio de um funeral, estando o festival
assim bem moribundo.
Mas isso de nascer e morrer é uma
grande incerteza, nunca sabemos quando iremos nascer nem onde bateremos as
botas. Líquido e certo é que o Vasco da Gama chegará em segundo. Sempre. E
sempre estaremos, nós, a antecipar o que virá e explicar porque não veio, se
não veio mesmo, ou vindo diferente, explicaremos o porquê das diferenças, pois
de visionários e videntes o mundo está cheio, assim como o inferno de boas
intenções e o céu de espaços vazios, e os esforços de todos nessas instâncias é
o mesmo, contar os dias, os mortos e os pecados até o dia em que daremos ou não
razão aos Maias e seu calendário apocalíptico. Até lá, vamos segurando-nos cada
um em seu santo.