Você tá vendo ali na esquina
bicho lambendo a ferida
querida, esse sou eu
ou o que de mim sobrou
Vou vagando pelos cantos
depois que o nosso desencanto
finalmente se rompeu
e acabou com nosso amor
Em vez de beijos todo dia
vivo em frente à padaria
das sobras que ninguém comeu
mastigando os velhos ossos
desse amor que já foi nosso
e agora já venceu
E quando bate o desespero
me concentro no galeto ou
nesse soneto que é só teu
Vem comprar logo o almoço
e me larga mais um osso
como você prometeu
E deixa o estabelecimento
e nele todo o sentimento
que tivera antes do fim
Vou ficar ali na esquina
te olhando na surdina
até que passes por mim
Então corro ao teu abraço
pra roubar mais um pedaço
da carne boa que comprou
E sob gritos e impropérios
vou me esconder no cemitério
e tu nunca mais me encontrou
Mas sempre fico ali na esquina
a lamber minha ferida
querida, é onde aos poucos eu morro
De vez em quando a velha bruxa
vem me bater com o guarda-chuva
me chamando de cachorro
E me recolho ao meu escuro
na sarjeta ao pé do muro
onde espero amanhecer
Quando tu vens comprar teu pão
e eu com sofreguidão
estendo a língua a te lamber
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