Nos idos de 1998, quando a própria Internet dava seus primeiros passos, Cony participou de um chat no UOL, coisa das mais inovadoras na época. Funcionava como uma roda de conversa, onde cada um postava sua pergunta e o convidado escolhia as que mais lhe interessavam para responder.
Comparado ao dinamismo das trocas de mensagens atuais, o chat do UOL pode ser considerado já um dinossauro, porém Cony, em sua egrégia humildade, fez o melhor que pode para responder a quem lá esteve. Vários assuntos foram abordados como politica, religião, literatura e até setters irlandeses, sua raça de cães preferida. Mas, dentre os assuntos por ele abordados, pinçamos as respostas mais importantes para nós, iniciantes nas Letras.
Perguntado sobre poesia, Cony responde:
"Num panorama geral, incluindo nacionais e estrangeiros, Machado de Assis, Sartre, Dostoiévski, Goethe, Dante, e os latinos, quase todos, poetas e prosadores."
"Aprendi a gostar dos poetas latinos (Horácio e Ovídio, principalmente) o que me levou a admirar os clássicos. Dante, Camões, Fernando Pessoa, Manuel Bandeira, Verlaine, estes estão entre os meus preferidos."
Perguntado sobre a Paixão e ate que ponto suas narrativas são autobiográficas, eis sua resposta:
"Evidente que todas as paixões e quebrações de cara dos meus livros tiveram equivalências na minha vida pessoal. Acredito que a paixão é o câncer do amor, ou seja, explode desordenadamente dentro da gente e não controlada, provoca metástase que nos leva à destruição."
"No meu primeiro livro, "O Ventre", o pai era um corno que termina louco de dor. Em "Matéria de Memória", o pai é um vilão que termina leproso e amaldiçoado pelos filhos. Em "Pessach: A Travessia", o pai é um judeu covarde que se suicida com medo de viver. Como vc pode notar, nenhum destes pais pode ser o meu. Em todo caso, isso não significa que o pai de "Quase Memória" seja exatamente o meu."
E também falou sobre a melancolia de seus personagens:
"...é muito comum os autores de romances, novelas e teatro matarem seus personagens principais, Considero isso uma solução fácil e banal. Por isso mesmo, condeno meus personagens à melancolia que eu acho muito mais humana e verdadeira do que a morte. É uma escolha pessoal minha. Agora mesmo,ao terminar meu último romance, tudo me levava a matá-lo. Ele era velho, doente, desencantado. Se eu o matasse, seria misericordioso demais. Deixando-o viver, acredito que melhor retratei a sua solidão e a sua tristeza."
Mais a frente, perguntado sobre que assuntos escrever que possam gerar interesse, Cony responde:
"...há
uma frase muito citada de Tchecov: escreva sobre a tua aldeia e descreverás o mundo. (...) Encontre o seu espaço e entre firme no assunto."
Sempre é triste perder uma voz tão ativa e delicada. Ainda bem que Cony nos deixa uma grande obra que pode ser sempre revisitada. Abaixo seguem alguns de seus trabalhos mais icônicos, para quem ainda não conhece e para aqueles que, na lembrança, possam matar a saudade. O autor nos deixa, fisicamente. Mas também nos deixa muito para que possamos nos deliciar.
O Ventre - primeiro romance do autor, publicado em 1955 - http://amzn.to/2qUmedI
Quase Memoria - Publicado em 1995 e ganhador do Premio Jabuti - http://amzn.to/2CYNLjF
Pilatos - publicado em 1973, uma critica satirizada da ditadura militar - http://amzn.to/2mingu6
Romance sem Palavras - obra que rendeu ao autor outro Premio Jabuti, em 2000 - http://amzn.to/2FlN41r
A Casa do Poeta Tragico - mais um romance a lhe render um Premio Jabuti - http://amzn.to/2FnOFDH