22 de fevereiro de 2018

Faulkner e a ocupação de Escritor

Neste post vamos falas sobre William Faulkner (1897 - 1962). Confesso uma ponta de orgulho para tratar desse autor de máxima envergadura literária, um dos pontos mais brilhantes da constelação de estrelas que paira sobre o Império das Letras.

Comecemos pelo óbvio. Faulkner ganhou um Nobel de Literatura (1949), dois Pulitzer de Ficção (1955 e 1962) e dois National Book Awards (1951 e 1955). Com essas credenciais e já estabelecido como grande escritor, foi entrevistado em 1956 pela revista Paris Review sobre sua rotina na literatura, como concebia seus romances e personagens e o que poderia dizer a novos escritores.

Faulkner era um sujeito tímido e introspectivo oriundo do Sul dos Estados Unidos e que preferia a companhia dos simples `a das rodas de literatos que um dia começou a frequentar. Se dizia um poeta fracassado, o que levou-o a escrever romances. Sua obra, apesar de muito elogiada pela critica, não teve tanto sucesso com o publico geral. No entanto, nunca deu importância `a critica.

A unica responsabilidade de um escritor é com a sua própria arte. O artista não tem tempo para dar ouvidos aos críticos. os que desejam ser escritores leem os críticos, os que querem escrever não os leem. O artista esta um furo acima do critico, pois o artista esta escrevendo algo que fara o critico funcionar. O critico esta escrevendo algo que afetara todo mundo, menos o artista.

Segundo o autor, a energia de um escritor deveria ser completamente direcionada `a escrita, levando a pratica `a perfeição. Não raro reescrevia completamente seus livros depois de escritos, levava-se ao extremo da técnica, sempre sabendo que poderia escrever melhor do que já havia escrito, tentando achar seu limite. Reescreveu seu grande romance Som e Fúria (1929) cinco vezes, cada uma abordando o olhar de um personagem sobre a mesma historia. O autor diz ter chegado `a versão definitiva apenas apos o livro já ter sido publicado.

Sobre seu processo de criação, dizia "O trovejar e a musica da prosa se processam no silencio. E dava especial atenção a sua técnica, afirmando que "Não havia atalhos". Procurava criar personagens verossímeis em situaçoes tocantes e criveis, da maneira mais viva que fosse possível. Ao escritor, afirmava que deveria possuir três coisas: Experiência, Observação e Imaginação. Mas que possuindo duas dessas características, ou as vezes apenas uma, poderia suprir a falta das demais.

Para ele, a maior qualidade que um artista deve possuir é a objetividade para julgar o seu trabalho, alem da honestidade e da coragem de não enganar a si próprio a respeito dele. Para Faulkner, escrever era tao importante e necessitava de tanta dedicação quanto qualquer outra profissão, seja de cirurgião ou pedreiro e dizia julgar seus trabalhos baseados na angustia e sofrimento que o causaram, já que nenhum deles atingiu os padrões que ele mesmo havia estabelecido.

Um tanto quanto perfeccionista, Faulkner teve como grande incentivador Sherwood Anderson e escreveu utilizando a técnica de fluxo de consciência, inaugurada por Proust e utilizada também por James Joyce e Ezra Pound. Posteriormente essa técnica foi levada `a poesia pela Geração Beatnik de Allen Ginsberg e Jack Kerouak. Dizia não sair de casa sem uma copia de Shakespeare num bolso e do Velho Testamento noutro e dizia não ler os seus contemporâneos, mas Charles Dickens, Flaubert, Balzac, Cervantes, os russos Dostoiévski e Tolstói, e, claro, Shakespeare. Este ultimo considerado a grande referencia, cuja obra superou seu próprio nome.

Se eu não tivesse existido, algum outro teria escrito meus livros: Hemingway, Dostoiévski, todos nos. A prova disso é que ha cerca de três candidatos para a autoria das pecas de Shakespeare. Mas o que é importante é Hamlet e Sonho de Uma Noite de Verão: não quem escreveu, mas o fato de alguém o ter feito. O artista não tem importância. Só é importante o que ele cria, já que não existe nada de novo para ser dito. Shakespeare, Homero, Balzac, todos escreveram acerca das mesmas coisas e, se eles tivessem vivido mil ou dois mil anos, os editores não teriam, desde então, necessidade de mais ninguém.

Afirmava que não apenas cada livro deveria ter um propósito, mas que toda a soma do trabalho de um artista também deveria tê-lo. E, para finalizar, William Faulkner nos brinda com seu conselho aos aspirantes a escritores.

Sempre sonhe e aspire a mais do que aquilo que sabe que pode fazer. Procure sempre ser melhor do que você mesmo; não se preocupe com seus contemporâneos ou seus antecessores. (...) O que eu escrevo tem que agradar-me. Se não me agrada, falar sobre isso não o melhorara em nada. A unica coisa que fara melhorar o que escrevo é trabalhar ele um pouco mais. Não sou literato, sou apenas escritor.

A obra de Faulkner muitas vezes foi adaptada para o cinema e, recentemente, seu grande livro Som e Fúria (1929) foi adaptado pelo ator e diretor James Franco. Para conhecer mais a obra do autor, seguem abaixo algumas referências.

Toda a Saga Yoknapatawpha:
- Sartoris (1929) - http://amzn.to/2ojjLpf
- Som e Fúria (1929) - http://amzn.to/2HF1RFF
- Absalão, Absalão (1936) - http://amzn.to/2HD3sM7
- Os Invictos (1938) - http://amzn.to/2EJUC1c
- Desça, Moises (1942) - http://amzn.to/2EWChxg
- Requiem para uma Freira (1951) - inédito no Brasil

E a Trilogia Snopes
- O Povoado (1940) - http://amzn.to/2ojAbOz
- A Cidade (1957) - http://amzn.to/2Fo6GT5
- A Mansão (1959) - http://amzn.to/2FmwGy1

Nenhum comentário: