14 de novembro de 2011

Centésimo post

O céu estava encoberto há dias, porém num abafamento digno de microondas. Até que numa quinta-feira, depois da novela, choveu.

Choveu como não chovia há tempos. Quando nos acostumamos às coisas de um jeito, fica difícil imaginar como precederíamos se fossem diferentes. Foi exatamente por isso que, por anos, meus pais postergavam a limpeza da calha de chuva da casa. Tudo bem, não os culpo, tarefa chata que é e que só percebemos bem sua importância no momento em que não podemos mais contar com ela. E não somos assim mesmo com tudo?

Pois bem, nessa chuvosa quinta-feira os céus decidiram mandar água além da conta da já comprometida capacidade da tal calha, o que levou a um transbordamento e, por fim, lagoas dentro dos cômodos da casa. No meu quarto o estrago foi grande. Móveis, carpete e roupas. Porém o maior dano e talvez o único irreparável tenha sido a pasta onde eu guardava o que escrevera até então ainda nos originais à mão em papel.

Comecei a escrever bem jovem como uma válvula de escape e um porto seguro, inseguro e ansioso que era (era?). E ali, naquela pasta, estavam relatos, rimas e estórias que não só mostravam a evolução de meu estilo (estilo?) mas (e muito mais) a minha própria.

Senti um aperto no peito ao ver as páginas - caderno, folhas sem pauta e guardanapos - chorando azul e borrando idéias, sentimentos e paisagens tão importantes para mim quanto a própria memória delas mesmas. Salvando o que podia, meti tudo num lugar seco e decidi que não perderia mais nada que escrevesse, por mais duvidosa que fosse a sua qualidade.

E foi então que surgiu a necessidade de guardar tudo fora do papel. Primeiro num lugar que fosse só meu, como merecem as coisas muito pessoais. Mas, aos poucos fui vencendo o pior dos críticos, eu mesmo, e abri acesso a quem quisesse poder navegar não por tudo, mas por onde o tempo já houvesse consolidado e pouca diferença faria a opinião dos outros.

Numa primavera há sete anos incluí os primeiros textos (textos?) - não sem um imenso crivo - e para comemorar o centésimo post deste espaço, tiro-lhes o pó e reapresento-os como os pioneiros e desbravadores deste Império das Letras.

Boa leitura.



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