21 de agosto de 2012

Tentativas


Eu que já tentei de tudo
Fiquei cego, surdo e mudo
E de nada adiantou
Me atirei em outros braços
Tirei mil novos retratos
O seu nunca desbotou
Já joguei as roupas fora
E a lembrança ainda aflora
Um broto de erva daninha
Eu renovo o meu canteiro
Me ocupo o dia inteiro
Debruçado à escrivaninha
Inventando tantos jeitos
De lembrar só teus defeitos
Que esqueci de decorar
Lembro a cor da sua unha
E as loucuras que propunha
Só para a gente se encontrar
E quanto mais esforço eu faço
Para sair desse embaraço
Mais me enrolo no novelo
Até a Buda eu hoje clamo
Para me esquecer de que te amo,
teus carinhos, teu desvelo
Mas não há santo que dê conta
Desse amor que ainda desponta
E me tira deste mundo
E eu sufoco, escondo e mato
Mas ele, como um desacato
Vai e volta mais profundo
Se escondendo nessas poucas
Irreconhecíveis bocas
A que me levam tua ausência
E eu tentando não lembrar
Não faço mais que recordar
E ao calar, peço clemência
Por favor, me deixa em paz
Tenha dó desse rapaz
Ó sentimento dolorido
Que não morre ou se desfaz
E que também não volta atrás
A reviver o colorido
Fica nesse lusco-fusco
A se arrastar como um molusco
Ruminando idas e vindas
Queria só por um momento
Um bem breve esquecimento
Que assoprasse essa ferida
Já seria um bom alento
Contra esse grão tormento:
Que é lembrar por toda a vida

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