Eu que já tentei de tudo
Fiquei
cego, surdo e mudo
E de nada
adiantou
Me atirei em outros braços
Tirei mil
novos retratos
O seu
nunca desbotou
Já joguei
as roupas fora
E a
lembrança ainda aflora
Um broto
de erva daninha
Eu renovo
o meu canteiro
Me ocupo
o dia inteiro
Debruçado à escrivaninha
Inventando
tantos jeitos
De
lembrar só teus defeitos
Que
esqueci de decorar
Lembro a
cor da sua unha
E as
loucuras que propunha
Só para a
gente se encontrar
E quanto
mais esforço eu faço
Para sair
desse embaraço
Mais me
enrolo no novelo
Até a Buda eu hoje clamo
Para me
esquecer de que te amo,
teus
carinhos, teu desvelo
Mas não há santo que dê conta
Desse
amor que ainda desponta
E me tira
deste mundo
E eu
sufoco, escondo e mato
Mas ele,
como um desacato
Vai e
volta mais profundo
Se
escondendo nessas poucas
Irreconhecíveis bocas
A que me
levam tua ausência
E eu
tentando não lembrar
Não faço mais que recordar
E ao
calar, peço clemência
Por
favor, me deixa em paz
Tenha dó desse rapaz
Ó sentimento dolorido
Que não morre ou se desfaz
E que também não volta atrás
A reviver
o colorido
Fica
nesse lusco-fusco
A se
arrastar como um molusco
Ruminando
idas e vindas
Queria só por um momento
Um bem
breve esquecimento
Que
assoprasse essa ferida
Já seria um bom alento
Contra
esse grão tormento:
Que é lembrar por toda a vida
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