21 de abril de 2007

Maré

Cadê o sorriso?
Cadê o tesão?
todos perdidos em ondas
de rádio e televisão
presságios do futuro
em letras do passado
runas inorgânicas
contam o novo dicionário
cartas na mesa e um bom jogo
divertimento, convívio e prazer
o que nos resta desta vida
senão nos gozar
aproveitar as coisas que temos para compartilhar
o riso, o sonho, o dia após dia
o som, o instrumento, a fonte de alegria
escuro ou claro
não importa o céu
vamos bribncar: eu represento,
você é o menestrel
pureza no convívio, nada
a esconder
rimas de cor
novenas a fazer
os pecados são muitos
mas não há porque guardá-los
já que o futuro não nos espera
um dia que morre
um dia que dorme
é menos um a ser aproveitado
o sono, inimigo da diversão
obstáculo eterno
de nossa reunião
os casais se formam e
não se entendem, pois
é o divertimento que
pretendem os atrapalha
atrapalha a rotina
o day-by-day
ao alcance das mãos
mas o convívio, o sonho
pemanecem vivos
uivo no silêncio dos beijos
estalos solitários na noite
que só vislumbra o todo
o som, o riso, a taverna
sou medieval, tenho certeza
não me agrada tanto mais a pureza
medieval do século xxi
será que além de mim há mais algum?
me prendo ao amor
mas tenho saudade de saga
provo a doce e quero a amarga
tenho todo e não tenho nenhum
sou medieval do século xxi
o dragão adormeceu
pela rede
o mistério, a bruma
desecarnou
sou o frio, o sozinho
o hermético filisteu
crio meus amigos, meus sonhos
minha dor
e não sinto falta de nenhum
sou medieval do século xxi
a madeira se fez plástico
as cordas se fizeram tecla
perdido na multidão de opções
faz-se só e sem assecla
perde-se, e o sozinho
é o Rei
nu ou vestido
feio ou pobre eu não sei
mas sinto falta do contato
da criatividade de outros tempos
cadê os filósofos e os poetas?
perdidos nas teias e redes do presente
me sinto ás fronteiras de Cafarnaum
sou medieval do século xxi
a poesia corre em mim
mas, de tantos atalhos,
ela não sai
nos esquecemos da pena e do papiro
vivemos somente o tédio e o suspiro
não temos mais sonho algum
sou medieval do século xxi
não entendo acordes
ou poesia concreta
nada mais me guia
cursor, rato ou seta
flutuo no meio da imensidão azul
sou medieval do século xi
não há mais cidades ou países qie me pertencem
se acendem traços de seios no futuro
recortes e contornos obscuros
que fase cruel, o envelhecer
o que virei a conhecer
pouco importa
já está obsoleto por definição
tudo nasce obsoleto
até que a rima nos separe
crise entre tantos
a decadência da personalidade
a procura de um ser total
só na imaginação
enquanto rola o simples,
o complexo se agita e clama por atenção
como um soberano
parem todos: o complexo é melhor!
o simples se recolhe ao pensamento
e se manifesta no riso, no som e na poesia
Cria! Cria! Cria! E não lê!
ser não, não há continuidade
as paredes não têm olhos e não enxergam no escuro
nada restará para sempre
mais puro
hoje é o sempre
e a eternidade é o minuto que passou
agarre-o e o sono que durma
deixe entrar dentro de ti
as características que você acha que tem
deixe o som entorpecer
e a companhia te enebriar
larga a dureza do mundo e se deixe levar
feche os olhos e surrealize
tantas ferramentas
tantos ângulos retos
deixe as curvas e os objetos cortantes sobressaírem
o som, a alma, a vida
viva e ouça: o coração
é o som que nos mantém vivos

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