11 de dezembro de 2017

Receitas de Umberto Eco para a escrita criativa

Quando é a hora certa de começar a escrever? Em seu livro "Confissões de um jovem romancista" o grande filosofo e ensaísta italiano Umberto Eco nos brinda com inúmeras observações importantes para nós  que estamos dando os primeiros passos no Império das Letras.

Para ele, a motivação em escrever um romance pode ser nenhuma e que isso já é um motivo razoável. Basta querer e você pode ser um escritor. Para ele, essa vontade surgiu depois dos 65 anos, já um consolidado acadêmico mas que nunca havia escrito um texto "criativo". A própria definição de texto nessa ambivalência "criativo" versus "cientifico" não existe, segundo Eco. Para ele, não ha como negar a criatividade nos textos de Galileu, por exemplo, usado nas escolas da Italia exatamente como exemplos de criatividade.

Seu primeiro romance, O Nome da Rosa, foi fustigado pela critica que, entre outras maliciosas afirmações, sugeriu que o livro so teve tamanho sucesso por ter sido feito por um computador. Eco, claro, tomou a pena mais uma vez e, em resposta a esse infeliz comentário, escreveu abaixo, com a ironia que lhe é peculiar, uma receita para o uso do computados para se escrever um best seller.

Em primeiro lugar, claro, urge ter um computador, uma máquina inteligente que pensa por você – o que é uma clara vantagem para muita gente. Basta um programa de poucas linhas; até mesmo uma criança pode fazer isso. Então, alimente o computador com o conteúdo de uns cem romances, obras científicas, a Bíblia, o Corão e um monte de listas telefônicas (muito úteis para os nomes dos personagens). Digamos, algo em torno de 120 mil páginas. Depois disso, usando outro programa, você os randomiza; em outras palavras, combina todos os textos, fazendo alguns ajustes – por exemplo, eliminando todos os “e”s – de modo a não obter apenas um romance, mas um lipograma à George Perec. Então você clica
em “Imprimir” e, já que pediu para eliminar todos os “e”s, o resultado será algo mais curto que 120 mil páginas. Depois de lê-las com cuidado várias vezes, sublinhando todas as passagens mais significativas, você as joga no incinerador. Então simplesmente se senta embaixo de uma árvore, com um pedaço de carvão e um papel de desenho de boa qualidade, e, deixando a mente divagar, escreve dois versos: “A lua está alta no céu/ O bosque sussurra”. Pode ser que não surja logo um romance, mas um haicai japonês. Entretanto, o importante é começar.

Não poderia ser mais claro. O importante é começar. Em algum momento aquele começo se fara desenrolar em um historia digna de ser contada e lida. Não tenha medo de dar o primeiro passo, ouvir sugestões e acatar somente aquelas que realmente ache relevantes.

Para mais sobre Umberto Eco:

Seu primeiro romance O Nome da Rosa - http://amzn.to/2Bc27eM
E este que referencio Confissões de um Jovem Romancista - http://amzn.to/2kZ8ETM

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