29 de outubro de 2010

Primeiro Beijo

Esta noite sonhei com um primeiro beijo. Você vinha longe cercada por uma aura colorida e suave, quase levitando. Seu vestido parecia fluido, tremulando em volta do corpo, escondendo e revelando curvas; às vezes frágeis, às vezes generosas.
Seus olhos – achas ardentes a marcar a face clara e sublimada – deixavam um rastro de minúsculas pedras preciosas como uma corte de fadas seguindo pelo caminho anunciando tua aproximação. Deles partia um olhar infinito, misterioso e corrosivo. Úmido apesar de petrificado no meu e prestes a derramar-se em júbilo.

Vinha com as mãos estendidas como quem distribui dádivas, compartilha calor e abençoa condenados. A sombra dos seios a marcar rijos o caimento do tecido evanescente. Finalmente parou diante de mim colocando-me em estado de epifania. Vi de muito perto a tempestade de cabelos escuros escorrendo em cachoeira sobre os ombros eternos e o colo macio.

Entreabertos como buracos-negros, nossos lábios se atraíram numa gravidade lasciva e o impacto de um milhão de estrelas me cegou. Não fechei os olhos e, mesmo cego, continuei vendo você.

Unimo-nos por um momento que passou longo demais para ser lembrado por inteiro e demasiadamente fugaz para ser aproveitado por completo. Corações pararam. Morri um pouco e renasci acordado, não querendo voltar para o sonho, mas me certificar de que seu primeiro beijo do dia fosse tão intenso e inesquecível quanto fora o meu.

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